RELATO
DA EXPEDIÇÃO ZV1M
Por Marcelo – PY1MT
Nilópolis, 20 de fevereiro de 2017.
Nilópolis, 20 de fevereiro de 2017.
Olá turma! Após um fracasso no ano anterior tentando operar diretamente
da praia do Abraão na Ilha Grande, resolvi retornar à Ilha Jurubaíba. Uma Ilha
pequenina situada entre a Ilha da Marambaia e a praia de Muriqui, em
Mangaratiba. Ilha pequena, sem energia, sem água, sem nada, apenas quatro
casinhas, uma igreja, um farol e um paiol de barcos meio que abandonado e meio
que bagunçado, que sempre sou autorizado a usar pelo dono, o pescador Tonho
(tomara que ele não leia isso). Ele reside uns dias na ilha e outros no
continente para venda do seu pescado.
Essa foi minha 3ª ida à Jurubaíba. Atualmente está difícil conseguir
algum colega radioamador para participar de uma atividade dessa, pois são dias
complicados sem tomar banho, comendo mal, dormindo pouco e mal em redes. Além
das adversidades que espantam uma meia dúzia temos outra meia dúzia de
radioamadores que tem seus problemas e agendas que impossibilitam de
participarem. Não estou a reclamar, pois sei das responsabilidades de cada um e
não podemos colocar nosso hobby na frente de trabalho e família, mas acabo me
sentindo um solitário nessa atividade aqui na Baixada Fluminense, quiçá no Rio
de Janeiro.
Este ano estava previsto de me
acompanhar o Maurício – PY1TI, mas na última semana foi escalado para ficar de
plantão na sua empresa por causa da mudança do horário de verão. O indicativo
dele já entrega...trabalha na área de TI....hihihihihi. Ele iria comigo para
dar atenção especial aos modos digitais e eu faria fonia e cw, cada um com uma
estação, mas não rolou.
Gosto de preparar minhas tralhas
com antecedência de uma semana pelo menos. Sou até criticado em casa por causa
dessa minha mania para qualquer tipo de viagem. Tenho um check-list e vou
marcando as coisas assim que entram na mala do carro ou numa das caixas de plástico
para transporte que possuo. Meu setup basicamente foi um FT-897, uma fonte
chaveada chinesa, um acoplador MFJ-993B, um notebook, um netbook (reserva) e
diversas interfaces cat, cw, digitais....tudo com backup. A antena foi uma
vertical VC-0680 e levei também uma G5RV e uma dipolo multi-banda, que já
estavam na caixa para uso na estação digital, além de dois geradores honda (1 EU10i e 1 EM1000F) e coisas pequenas como
extensão, ferramentas, lâmpadas, adaptadores, fitas, etc.
Para alimentação levei um pacote
de pão de forma com recheio de maionese com sardinha.....hummmm....gosto muito
disso. Levei também umas linguiças finas já fritas, biscoitos e uns chocolates.
Gordo é um problema, poderia ficar sem propagação, mas sem comida não...kkkk.
Também levei uma caixa térmica com 5 litros de água, 2 de refrigerante, e 1
litro de suco. O calor estava imenso e confesso que cheguei a começar a
racionar a bebida, pois no fim da tarde de sábado já havia bebido o
refrigerante e 2 litros de água. Fazia um calor imenso.
Desde o início meu plano era de
seguir os 75 km de Nilópolis até Itacuruçá na manhã de sábado e iniciar as
transmissões no máximo ás 10h. Saí de casa 5:30h da manhã e cheguei lá bem
rápido por causa do pouco transito para o horário. Como estava só, havia um
problema pois teria que descarregar as tralhas na orla e estacionar o carro uns
2 ou 3 quarteirões pra dentro do bairro. E aí ? como fazer? Após descarregar
avistei uma senhora grávida e perguntei se ela podia tomar conta das minhas
coisas enquanto estacionava meu carro. Ela disse que sim, que seu marido estava
também tentando achar uma vaga pro carro deles. Sei que fui, estacionei e
voltei antes do marido dela....kkkk. Desafio maior foi conseguir um barqueiro
pra atravessar naquele horário. Os caras iniciam o expediente sem gasolina e
aguardam o posto abrir às 7:30h pra abastecer seus galões. O primeiro barqueiro
que tentei contratar me cobrou apenas R$30 para levar a mim e as tralhas, mas
foi abastecer e não voltou mais, creio que tenha se arrependido do preço baixo
que me deu. Logo depois consegui um por R$50 e partimos pra ilha, chegando lá
por volta de 8:30h já. Combinei com o
barqueiro que talvez voltasse no fim da tarde se minha atividade não se
desenvolvesse a contento...nem tentei explicar pro cara o qual seria minha
atividade na ilha, pois ele já havia colocado as varetas da vertical no barco
chamando de varas de pesca. Então melhor ficar calado kkk.
Após uns 15 minutos, visto que a
Ilha Jurubaíba não é tão longe assim e esses barquinhos de fibra são rápidos,
cheguei ao paraíso, um lugar onde não há interferência na RF e nem no operador.
É só rádio e mais rádio! Para descarregar as tralhas é preciso um pouco de
cuidado pois não há areia e o barco sobe um pouco sobre uma rampa de pedra e
concreto em frente ao paiol onde será instalada a estação. Qualquer descuido e
um escorregão acaba com a diversão. Após o desembarque instalei a antena
vertical VC0680 nas pedras, distante 12 metros da estação. Justamente o tamanho
do cabo RGC213 que levei. Mastro de 1m encaixado entre as pedras e 3 tirantes
no meio da antena são o suficiente para deixá-la firme. Numa mesa de ferro,
destas de bar, ficaram o notebook na esquerda e o FT-897 em cima do acoplador
na direita. Ciente que a antena não precisa de acoplamento, mas o acoplador MFJ
993-B serve também como chave de antenas, pois tem duas entradas de antena e
serve também como instrumento de medição para a roe e pwr.
Logo no início das transmissões
recebi a visita de 3 filhos do pescador Tonho e tive que abandonar um pequeno
pile-up para dar uma breve explicação àqueles meninos que não entendiam nada
dos calls e five nines que eu exclamava. Sempre levo alguns brindes quando saio
para field days, principalmente em locais desconhecidos, pois é sempre bom
deixar uma boa impressão, fazendo a política da boa vizinhança e deixar tudo como
estava antes ou melhor e garantir um possível retorno ao local. Então, além da
explicação sobre o que eu fazia ali, os meninos também ganharam alguns
chocolates e adesivos da Casa do Radioamador de Nilópolis. A propaganda é a
alma do negócio!
Logo no início aproveitei a
ajuda valiosa do Fábio – PY1ZV para ajustar a minha transmissão, pois como
falei lá no início tive um fracasso anterior no IOTA 2016 iniciado pelo
microfone desregulado. Atualmente uso um headset Frankstein que resume-se à uma
carcaça David Clark, alto falantes Heil e um microfone de eletreto. Já havia
feito testes anteriores em casa, mas faltava o ajuste no campo. Tudo 100%
taca-lhe pau no CQ, foi quando Lá para o meio-dia percebi uma alteração, a roe
subia e consequentemente a potência caía, e isso no meio dos qsos trazendo
imenso transtorno e me fazendo parar algumas vezes para tentar descobrir a
causa. Desmontei e remontei a antena, troquei o cabo, troquei o cabo que ligava
o rádio ao acoplador, retirei o acoplador e em todas as tentativas obtive um
sucesso momentâneo que logo após acabava retornando o problema. Depois de algum
tempo e quase partindo para a montagem da G5RV pois comecei a desconfiar que a
pane seria do rádio, descobri a causa. Abrindo a caixa plástica na base da
antena vi que o parafuso que sai dos toróides para a vara de alumínio estava
frouxo, possivelmente devido ao transporte ou apenas Mr. Murph se fazendo
presente. Um torque a mais no parafuso e problema resolvido. Aproveitei para
deixar a tampa aberta pois a capa termo retrátil dos toróides chegava amolecer
com o uso contínuo.
Agora vem a cereja do bolo, ou
melhor a pedra no sapato. Após estas interrupções resolvi instalar a G5RV que
seria para uso do Maurício – PY1TI na estação dedicada a modos digitais. Então
subi o morrinho acima das pedras em direção ao Farol para jogar uma marimba
numa amendoeira e poder atravessar uma cordinha e poder içar o centro da
antena. Após umas 5 tentativas frustradas e perder a pedra que arremessava,
tudo isso debaixo de um sol escaldante e no meio do matagal, achei um galho
grosso e amarrei-o na cordinha e decidi arremessar com toda a minha força e
raiva que já estava naquele momento. Só esqueci de avisar isso ao meu joelho
esquerdo que já havia passado por uma cirurgia de retirada de menisco e uma
reconstrução ligamentar anos antes. O pior aconteceu. Meu joelho saiu do lugar
lateralmente e a dor foi imensa, muito grande, seguida do desespero de saber
como sairia da ilha após uma luxação no joelho e provável lesão na antiga reconstrução
do LCA (ligamento cruzado anterior). Passado o susto e ter conseguido ficar em
pé, abandonei as cordinhas e G5RV pra lá e fui descendo de forma bem lenta o
tal morro pedindo a Deus para que meu joelho não saísse do lugar novamente.
Consegui descer com alguns percalços e sustos e voltei a estação e iniciei a
colocação de gelo, que havia na caixa térmica, no joelho dolorido e começando a
inchar. Depois de um certo tempo agradeci a Deus, pois poderia ser pior.
Imaginem um infarto sozinho na ilha. Depois de alguns minutos peguei umas
ataduras (santo kit de 1ºs socorros), enrolei no joelho para dar mais
estabilidade, tomei 2 dipironas e acabei me acalmando e retornando ao CQ. Já
estava ali mesmo, tudo instalado, sentado de frente pro rádio....só me restava
aguardar a evolução da lesão e enquanto isso toma-lhe CQ LH CQ LH ZV1M !
No final da tarde parecia ter o
quadro estabilizado e cheguei a tomar a decisão de seguir com o planejado e
passar a noite na ilha, pois queria aproveitar o turno da noite nas bandas
baixas que andavam com a propagação em alta durante a semana, mas o meu joelho
de vidro parecia ter vida...kkk...ele estava quente e pulsando! Isso aliado ao
fato de estar com um ruído imenso em 80m (vertical) e zero chance de usar a
G5RV resolvi desistir do meu reality show rsrsrs e chamar a produção, ou seja,
decidi abortar e voltar pra casa, isso às 20:40h PT2. Tomada a decisão liguei
para o barqueiro que me trouxe e iniciei a desmontagem lenta e cuidadosa de
toda parafernalha. Com a chegada do barqueiro contei a ele o ocorrido e que
estava meio “pitimbado” e o mesmo prontamente se ofereceu a ajudar, carregando
tudo sozinho para o barco e juntar outras coisas. Eu fiquei feliz pela ajuda e
ele feliz pela caixinha que recebeu no retorno ao continente e acomodação das
coisas no carro, que fui buscar vagarosamente.
É isso galera. Assim foi meu longo
sábado no 9º Final de Semana dos Faróis Sulamericanos. Foram duzentos e poucos
contatos, muito DX e alguns países raros para o nosso dia a dia de DX em nossos
QTHs.
Hoje já é segunda-feira e
continuo com o joelho inchado, instabilidade para andar e após consulta ao
ortopedista ficou constatado que a possibilidade de uma lesão da reconstrução
do LCA é quase certa e a ser confirmada após exame de ressonância magnética.
Eis a minha dúvida: será que no
IOTA em julho eu já estarei bem ?